24 de outubro de 2015

A CRIATURA DA CRIAÇÃO

Eu desejo que você fique,
Quando eu não mais estiver aqui,
Eu desejo que você console,
Aqueles que estão por vir,
Pois os de agora não absorvem
A intensidade da sua forma,
A pureza da sua imagem,
A sonoridade da sua passagem.

Eu desejo que você fique,
Para poder aliviar o soluçar,
Daqueles que choram no escuro,
Dos seus quartos, dos seus cantos,
Das janelas sem estrelas, sem luar,
Trazendo conforto e alivio,
Sendo a melodia do estupor,
Nas conquistas, nas vitórias,
Nas alegrias e no amor.

Eu desejo que você fique,
Seja o bálsamo dos agoniados,
Alimente a fome dos injustiçados,
Cure os corações ulcerados,
Acalme a maldade das mentes,
Seja a cromoterapia dos doentes,
As cores graficamente reluzentes,
Afastando todo e qualquer temor...
Não nos abandone ao léu malfeitor.


Eu sou só o seu instrumento,
Dedos que seguem o seu percurso,
Sentindo o que flui de suas entranhas,
Sentindo o cheiro de lágrima,
Aquela que brota ao nos ver rendidos,
A tudo aquilo que não faz sentido,
Ouça-me, fique minha doce criação!
Por compaixão, por comoção,
Humanos viciosos em destruição.

Como posso conceber ou aceitar,
Toda uma vida sem a arte, sem você?
A nossa história ainda é crua,
Não a vejo como pura engenharia,
Estrutura formada só por manipulações,
Uma pessoa como eu, sua criatura,
Engessada nesta selva cinzenta e caótica,
Cria do egoísmo no reino do capitalismo,
Jamais poderia respirar sem você.

Num país tão belo e desdenhado,
Por seus filhos ingratos, enculturados,
Que sentem tão pouco sua harmonia,
Não enxergam a magia da sua sinfonia,
Nas almas cativas como a minha,
Que não podem deixar de sonhar,
Está bem, eu continuo sendo a sua criatura,
Indizível seria, mas eu ainda posso acreditar...
Que você sobreviverá e me recriará.


Bia Girotto - Novembro de 2014

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