31 de janeiro de 2015

A CRIATURA DA CRIAÇÃO

Eu desejo que você fique,
Quando eu não mais estiver aqui,
Eu desejo que você console,
Aqueles que estão por vir,
Pois os de agora não absorvem
A intensidade da sua forma,
A pureza da sua imagem,
A sonoridade da sua passagem.

Eu desejo que você fique,
Para poder aliviar o soluçar,
Daqueles que choram no escuro,
Dos seus quartos, dos seus cantos,
Das janelas sem estrelas, sem luar,
Trazendo conforto e alivio,
Sendo a melodia do estupor,
Nas conquistas, nas vitórias,
Nas alegrias e no amor.

Eu desejo que você fique,
Seja o bálsamo dos agoniados,
Alimente a fome dos injustiçados,
Cure os corações ulcerados,
Acalme a maldade das mentes,
Seja a cromoterapia dos doentes,
As cores graficamente reluzentes,
Afastando todo e qualquer temor...
Não nos abandone ao léu malfeitor.


Eu sou só o seu instrumento,
Dedos que seguem o seu percurso,
Sentindo o que flui de suas entranhas,
Sentindo o cheiro de lágrima,
Aquela que brota ao nos ver rendidos,
A tudo aquilo que não faz sentido,
Ouça-me, fique minha doce criação!
Por compaixão, por comoção,
Humanos viciosos em destruição.

Como posso conceber ou aceitar,
Toda uma vida sem a arte, sem você?
A nossa história ainda é crua,
Não a vejo como pura engenharia,
Estrutura formada só por manipulações,
Uma pessoa como eu, sua criatura,
Engessada nesta selva cinzenta e caótica,
Cria do egoísmo no reino do capitalismo,
Jamais poderia respirar sem você.

Num país tão belo e desdenhado,
Por seus filhos ingratos, enculturados,
Que sentem tão pouco sua harmonia,
Não enxergam a magia da sua sinfonia,
Nas almas cativas como a minha,
Que não podem deixar de sonhar,
Está bem, eu continuo sendo a sua criatura,
Indizível seria, mas eu ainda posso acreditar...
Que você sobreviverá e me recriará.




Bia Girotto - Novembro de 2014

CHORAÇÃO




Lateja, pulsa, esvazia,
Chora, doí, esfria,
Desnorteia, norteia, cansa,
Não sente, ou sente muito mais do que devia,
Descompassado e chorão.



Choração, Choração...

Coração bobo, coração doido, coração frouxo,
Traz –me muitas agonias,
Traz-me muitas alegrias,
Enquanto houver vida,
Pulse a mais bela melodia.


Bia Girotto - Novembro de 2014

REALIAÇO



Palavras ditas, queimam mais do que o fogo,
Perfuram mais do que o aço.

Cala-se num gesto conformado, 
Ante ao golpe duro, solidão.

Em um vão devaneio, pode–se pensar,
Quantas vidas se viveu para pagar.

Pagar o preço do que não se recorda,
Pagar o preço das prestações de discórdia.

Todos precisam de amor, mas você não,
Todos precisam da sua compreensão.

Compreensão violada,
Gritos, pedidos, lágrimas, não resolvem nada.

O peito rasgado, coração retirado,
O sangue parado, olhos fechados.

Olhe para dentro e tente entender,
Que a vida vai seguir sem você.





Bia Girotto -  Novembro de 2014

DESALINHO DE IDEIAS

Eu quero, eu posso, eu consigo,
Muitas vezes eu quero e não posso,
Muitas vezes eu posso e não consigo,
Muitas vezes eu consigo e não quero.

Paradoxos que se unem à substância,
Inflamável, perigosa, corrosiva,
Tóxica e nociva, envenena a alma,
Abastece a hipocrisia desmedida.

Inválido pensamento, ação vazia,
Competição, escravos da produção,
Jornada de trabalho enlaçada,
Ao abuso dos jogos da manipulação.

Crava-se no peito o punhal enferrujado,
Rasga-se a carne em dor dilacerante,
O reflexo do sol sob o destemido mortal,
Reverterá todo o sangue em fluído vital.




Bia Girotto -  Dezembro de 2014.
Recitada por Ton Girotto - Julho de 2015.

ACRÓSTICO VITAL

Ar puro aqui não há,
Contaminação da ambição,
Relíquia orgânica, o existir,
Oliveiras nascem com a chuva,
Saúdam com alegria as emoções,
Transeuntes a preencher os corações,
Indubitável amor inabalável, tão raro,
Colossal que coabita toda pureza,
Ostentando a vida , a natureza.

Branca nuvem cintilante,
Escorrega no céu cinza, constipado,
A sinfonia da chuva tão abençoada,
Traz consigo calma e melancolia,
Rasga o vento, cristalina menina,
Instiga tantas lindas esperanças,
Zelando pelo ar que se inspira.

Vilipendio das ações humanas,
Incansável, ele dá mais uma chance,
Tranquilamente ainda persiste,
Alimenta nossa raça irracional,
Lamentando o egoísmo universal.



Bia Girotto - Dezembro de 2014

POSITIVA HOJE (ACRÓSTICO)


Beija-se o vento,
Ergue-se o sonho,
Abre-se a montanha.


Purifica-se o sangue,

Ouve-se o gemido,
Sente-se o horizonte,
Ignora-se o supérfluo,
Troca-se o coração,
Impulsiona-se o gesto,
Valoriza-se o esplendor,
Ama-se o amor.

Hipnotiza-se o olhar,
Oscula-se a pele,
Jejua-se o sombrio,
Enfraquece-se o vazio.


Bia Girotto -  Dezembro de 2014

MARESIA BRISAMAR (ACRÓSTICO)

Beijo o sol 
Encontro a paz
Abrigo a esperança 

M
ar doce mar
A
quece meu sangue
R
espiro melhor
Elevo o pensamento
S
aboreio o firmamento
I
emanjá me abençoa
A
braça-me o seu olhar

B
orbulha por minha pele
R
esgata minha serenidade
I
mpõe sua majestade
S
opra vivacidade
A
çucara os meus desejos
M
aresia, brisamar
A
prazível ao meu despertar
R
imas feitas ao som das ondas...Brisamar.



Bia Girotto -  Dezembro de 2014

COM QUE IDADE SE É FELIZ?


Feliz é aquele que sente satisfação,
Em sorrir,
Em abraçar,
Em dizer muito obrigada,
Em escutar um você me notou,
Em sentir empatia pela vida,
Em ser humilde nos momentos de conquista,
Em ser autêntico ao levar surras da mentira.

Ah, tão almejada felicidade... Qual sua idade?
Com que idade se é feliz?

Feliz é aquele que sente alegria,
Ao ver o animal de estimação recuperado,
Ao sentir o cheiro da pessoa amada,
Ao contemplar o céu estrelado,
Ao desnudar a alma ante à imponência de uma cachoeira,
Ao perceber o brilho nos olhos do filho,
Ao ouvir o canto dos pássaros pela manhã,
Ao encher os pulmões triunfante em louvor.

Ah, tão almejada felicidade...Qual sua idade?
Com que idade se é feliz?

Felicidade, felicidade...
Um farelo de felicidade é capaz de transformar o mais rude pensamento.
Poder tomá-lo delicadamente do abstrato e usufruí-lo com simplicidade,
Em cálices de esperança por uma vida melhor.

Ah, tão almejada felicidade...Qual sua idade?
Com que idade se é feliz?

Você pode não ser deste mundo,
Porém acredito que não lhe desejo em vão,
O momento chegará e quero estar pronta,
Para dormir em seus braços ouvindo o bater do seu coração,
Manterei o processo de elevação,
Em livres lampejos de transmutação,
Desintoxicando a alma e o corpo,
Aprisionando a melancolia em frascos de compaixão. 


Bia Girotto- Janeiro de 2015

MEU AMIGO BENJAMIN (ACRÓSTICO)

Minha miniatura companheira, 
Eu te amo de qualquer maneira,
Único e sapeca, salta todas as barreiras. 

A
migo incondicional,
M
olequinho sensacional,
I
nteligente e ligeiro,
G
oza da vida o tempo inteiro,
O
lhinhos brilhantes, energia contagiante.

B
lin, blin, sou tão clean, clean,
E
nriqueço os dias da minha família,
N
ão fico sem aprontar, noite e dia,
J
á, já, quero um cafuné para relaxar,
A
legria é o meu nome, eu tenho um novo lar,
M
aroto é o meu apelido, obedeço quando dá.
I
ncomparáveis orelhinhas, Zorebinhas,
N
oturno e macio, prazer, eu sou o Benjamin.




Bia Girotto -  Janeiro de 2015

EL AMOR TODO LO IGUALA ( Refranero en Poesía)
























Ah, o amor....
Qual amor?

Quando amar?

Como sei que é amor?


Sem rótulos, sem receitas,
Sem paixão, só coração.
A ilusão empobrece,
A alma, o corpo, a ligação.

Esse amor que me habita,
Tenta sentir e compreender,
Busca aceitar o outro,
Sendo um outro ser.

Tudo bem, não te apresse,
Pois esse que te enobrece,
Chega de mansinho,
Vem testando, e constrói um ninho.

Naturalmente me dou conta,
O amor vem me ensinando a amar,
Amar as fraquezas e as virtudes,
Amar simplesmente por amar.

Cuidadoso, libertador e parceiro,
Não concorda o tempo inteiro,
Não controla as escolhas,
Não impõe e não abandona.

O que eu entendo do amor?
Entendo muito pouco, talvez,
Estou aprendendo todo dia,
Estou vivendo a sintonia.

O meu primeiro amor?
Não fui eu mesma,
O amor do outro me tocou,
Trouxe-me de volta a quem sou.

Por isso eu posso te dizer,
Jamais desista do amor,
Sei que não se opta por sentir,
Sei que há o pranto ao dormir.

Decidir ou não?
Não está em nossas mãos,
Palavras são desnecessárias,
Pues el amor todo lo iguala.

* Frase proverbial española: Con amor se allanan las dificultades.


Bia Girotto -  30 de janeiro de 2015.