12 de julho de 2011

GENTE ÂNCORA


Não quero a angustia;
Da esperança insensível,
Dos horizontes esquecidos.


Eu quero a paz inabalável;
Aquela afável que laça,
O coração descompassado.

Não quero que me vejas;
Que me leves ao cavado,
Da selva do primitivo arraigado.

Eu quero a brandura do genuíno;
Do calor, do odor de cravo.
Dos sons que tocam o inexorável.

Não quero que me ouças;
Nem por um momento,
Nem o ruído mais secreto.

Eu quero o que enobrece;
O que aquece, o que segue,
Nas mãos duma poesia leve.

Não quero que me sintas;
Nem na mais remota sintonia;
Deixa estar, tua vez vai passar.

Eu quero muito em breve;
Não sofrer com tal impertinência,
Dessa âncora em decadência.





 Bia Girotto -  Setembro de 2014

8 de julho de 2011

DOCE TERRA PROMETIDA

Se eu não pertencesse a este lugar,
Se eu não estivesse em lugar nenhum,
Minh' alma volitaria acima da vida,
Veria o espetáculo da fantasia,
Pairaria o céu, vestida de vermelho,
Despejando amor pelo mundo inteiro.
O castelo me chamaria,
Se eu houvesse residido,
Em sua majestosa torre,
Ele não precisaria de portões,
Ele estaria livre no campo,
Ao centro do orvalho das ilusões.
Aquela terra tão longínqua,
Brotaria em eras de paixão,
Eu me libertaria,
Eu resplandeceria,
Águia plaina no céu,
Inebriante a luz do dia.
Queria voltar à esta terra,
Beberia as horas da existência,
Desejaria ir a todos os lugares,
Minh'alma choraria,
Minh'alma cantaria,
Meu mundo sorriria.
Sempre e eternamente só,
Não consisto em mais de um,
Quero dançar... Na esfera,
Quero dançar... Sob o mar,
Quero dançar... Com o sol,
Quero dançar... Abaixo do luar.
Quando eu despertar,
Verei os grilhões a me cercar,
Sentirei o corpo todo cansado,
A mente irrequieta a trabalhar,
O árduo pranto dentro da prisão,
O coração sangrando de solidão.
O alívio deve estar no invisível,
No gelo que encobre as montanhas,
No lago de águas verdes ofuscantes,
No topo congelado das maravilhas,
Encontrar-lhe-ei deverás...
Doce terra prometida.


Bia Girotto -  Julho de 2011

5 de julho de 2011

DOCE TRANSGRESSÃO

Seguir as regras : saudável?
Até que ponto : feliz?
Não cometendo erros: perfeita?
Não  falando o que penso: diplomática?
Não fazendo o que sinto: viva?
Não sendo eu mesma: compreensão?

A vida é feita : sonhos; escolhas?
Priorizar os sonhos alheios: humana?

Alienada: eu?
Circunstâncias: sou fugaz?
Efêmera ou permanente?

Talvez...
 Só sei que muito me encantam as transgressões.


Bia Girotto -  Julho de 2011.

4 de julho de 2011

OBSESSÃO



A mente em desassossego,
O coração palpita no peito,
A confusão domina as vontades,
A certeza de fazer o que maltrata,
O risco de perder as conquistas,
A insanidade não cumprida,
O medo dos erros conscientes,
A angústia do lento passar das horas,
A ansiedade de ver no que vai dar.

O intrépido gelo na alma,
A dor incansável no estômago,
Ansiando e repudiando o novo,
O inconformismo com o tédio,
A tendência autodestrutiva,
A autoestima fraca e dilacerada,
A revolta no lugar da aceitação;
A ilusão que persiste no devaneio,
A dor de chorar o tempo inteiro.

É a minha obsessão,
Loucura, transtorno, perturbação.
O que fazer para acolher esse lado tão obscuro,
Arrancar de dentro a sensação...
A de não querer existir num mundo cão?


Vou amando a vida,
Vou amando as pessoas,
Vou amando a natureza,
Vou amando o amor,
Vou amando a amizade,
Mas não amar o suficiente,
Para permanecer no mesmo lugar,
Para criar e fortalecer os vínculos,
Para ser sincera sem pestanejar.

Será que algum dia saberei demostrar,
Tudo o que sou, tudo o que sei evitar?
Dolorosamente sinto o peso das mentiras,
Dolorosamente sinto o peso da tirania,
Mesmo tendo pessoas luz ao meu lado,
Ainda não descobri se isso é o suficiente,
Se sigo ou não em frente, confiantemente,
Ou paro para avaliar minha lucidez,
De vez em vez em busca da fluidez.

É a minha obsessão,
Loucura, transtorno, perturbação.
O que fazer para acolher esse lado tão obscuro,
Arrancar de dentro a sensação...
A de não querer existir num mundo cão?


Sonhos, sonhos, sonhos,
Sonhando um sonho a sonhar,
Se eu pudesse não mais sonhar,
Sonhos, sonhos que não sustentam,
Sonhar, sonhar sem nunca descansar,
Sonhar, realizar, realizar, sonhar,
O alicerce da realidade condicionada,
O sonho de uma trilha enxovalhada,
Ou o sonho de uma ilusão acabada?



                                                        Bia Girotto -  Julho de 2011.


14 de junho de 2011

CADA VEZ MAIS ANTISSOCIAL

Lara não é como nós, ela gosta de ficar sozinha.
Já aprendeu a não esperar nada de ninguém, algumas vezes ainda é surpreendida, mas jamais decepcionada.
Lara sabe que vive em um mundo onde as pessoas se aproximam por interesse, conveniência e ficam enquanto veem no “outro”, características que ainda possam lhe servir para algo. Quando por algum motivo o “outro" não mais pode satisfazer suas exigências e vaidades, torna-se desnecessário e esquecido.
Lara me contou quando isso começou. Foi em um dia em que tinha tanta gente ao seu redor que pensou em sumir por um tempo, pois não sabia como se desvencilhar desse mundo de pessoas que gostavam de bisbilhotar, palpitar e a ditar manuais extensos de normas de boa conduta que dariam solução em sua vida. Ela ficou doente por uma semana, seu telefone parou de tocar, as mensagens não chegaram e nenhuma notificação nas redes sociais. Lara pensou se conseguiria se habituar a ser sozinha; de repente o interfone toca; Lara levanta com muita dor; vai se segurando nas paredes do corredor até a cozinha; finalmente o interfone! Desiste de atender, mas soa novo toque; ela atende e diz: Sim...A voz do "outro" responde: - Lara, sou eu! SOUBE que está doente e preciso te ver!
Moral da história - Uma das formas de Deus nos lembrar de que somos amados por ele é trazer alguém para a nossa vida que nos surpreenda com o mínimo de amor que se possa oferecer. Aquelas pessoas que sabem o que estamos passando e fingem não saber são diversas, entretanto assim que o sentimento de solidão invadir a nossa alma, recordemos que o visível aos nossos olhos é ínfimo comparado à imensidão de tudo aquilo que ainda não podemos enxergar.



Bia Girotto -  Fevereiro de 2014

13 de junho de 2011

O MURO

Viver...
É angustia, medo, frustração, decepção, paixão,
É ter paciência para sofrer cada fase, em cada frase.
É poder arcar com as suas escolhas equivocadas,
É poder olhar ao redor e ver tudo aquilo que parece ser.

É enxergar o tempo que passou e aquele que se perdeu,

É correr tanto e nunca saber para qual direção.
É conquistar bens, mas depois gastá-los com enfermidades,
É viver em constante desatino, paranoia do repentino.

É não saber se já se amou ou foi amado,

É identificar o amor depois que ele partiu,
É gostar de tantas coisas e fazer o que menos se gosta,
É saber que sua saúde está comprometida porque não larga um vício,
É viver estressado, sabendo que tudo isso só lhe consome e engole.

Que ninguém, nem a vida, nem você, consegue por um minuto afastar esses hábitos arraigados.

É lembrar de um passado marcado, que insiste em bater na porta do seu coração,
É saber que Deus existe, mas não conseguir ser ou ver,
É ,além de tudo, saber que se você não ama a vida, não ama a si mesmo.

Tantos dizeres, tantas definições, rótulos espalhados ao chão...
Vamos! Ajude-me a saltar esse muro, deixar lá para trás a lamentação.







Bia Girotto -  Junho de 2011