3 de junho de 2016

NASCEU MULHER



E ela nasceu, cresceu tão perto do abuso,
Sentiu a rejeição e passou anos de luto.

O desamor de um ser egoísta e covarde,
Escondido atrás de uma garrafa, arrotando coragem.

Algo tão familiar esse lance de violentar,
Os sonhos de uma mulher ele deve sabotar.

Pisar em seus sacrifícios, sangrar seus planos,
Espancando sua vida e trazendo pânico.

Ofereceu a ela tudo que não prestava,
Excedeu-se em todos os limites, só a usava.

Mas ela pediu, é mulher, a pior das farsas,
Nasceu para ser subjugada e viver sob ameaça.

Ele acha que ela é sua propriedade,
Um bem conquistado que deve lealdade.

Assim que ela reage vem o desespero,
Ele furioso a sufoca com um travesseiro.

Ela sobrevive ao ataque, segue o seu caminho,
Encontrou "outro ele" e pensou merecer um carinho.

Já no início tudo parecia ser estranho e confuso,
Ele a forçava, era um ogro, um estúpido.

Manipulou, violentou, machucou, invadiu sua alma,
Como se fosse merecido, castigada em trauma.

E mais uma vez ela sobreviveu...
O corpo todo ferido, o espírito esquartejado.

Um fruto da violência ela gerou,
Como sentir amor pelo terror de tanta dor?

No momento do parto não podia reclamar,
O médico não admitia, vamos, abra as pernas sem chorar. 

Agora é hora da sociedade que está a sua espera,
Julgamento e condenação, punição na atmosfera.

Alguns diziam que era merecido,outros, que ela havia procurado.
Nasceu mulher.... Seu único e grande pecado.


Bia Girotto - Junho de 2016