19 de março de 2015

EU COMPREENDO

Você tenta e não consegue, eu compreendo.
Você fala e não lhe escutam, eu compreendo.
Você caminha e não chega, eu compreendo.
Você chora e ninguém sabe, eu compreendo.
Você almeja e não alcança, eu compreendo.
Você sente muito mais do que queria, eu compreendo.
Você está cansado(a) de lutar, eu compreendo.
Você está farto(a) de competir, eu compreendo.
Você tem defeitos duramente apontados, eu compreendo.
Você tem virtudes inválidas, eu compreendo.
Você não encontra uma saída, eu compreendo.
Você está triste por não ter amigos como antes, eu compreendo.
Você se sente sozinho(a) neste mundo de faz de conta, eu compreendo.
Você se contamina com a síndrome da celebridade virtual, eu compreendo.
Você está irritado(a) e intolerante por viver numa cidade caótica, eu compreendo.
Você tem depressão e se contraría para levantar da cama, eu compreendo.
Você já desejou dormir o sono sem amanhã, eu compreendo.
Você sabe que existe um Poder Maior, mas não sabe o porquê de estar aqui, eu compreendo.


Você tem tudo e se sente vazio, eu compreendo.
Você precisa consumir para fazer parte, eu compreendo.
Você precisa ter inúmeros diplomas num país analfabeto, eu compreendo.
Você estuda tanto e não consegue um bom emprego, eu compreendo.
Você quer uma (um) companheira (o) e não uma sócia(o) para dividir despesas, eu compreendo.
Você quer um filho para cuidar e não terceirizar, eu compreendo.
Você sente saudades da época em que subir na árvore, jogar bolinha de gude, brincar de pega- pega na rua era sinônimo de infância e felicidade, eu compreendo.
Você quer ter alguém que segure a sua mão quando o seu corpo estiver queimando em febre, eu compreendo.

Eu compreendo você ...

Quando eu arremesso para longe a máscara sorridente que pesa no meu rosto diariamente.
Quando eu desacelero o ritmo e olho para o céu procurando uma estrela, mas não encontro.
Quando deito pela noite e sinto uma intensa fragilidade por não ter o controle da minha própria vida, do ar que inspiro.
Quando estou no trânsito ao lado do rico e do pobre, ali parada, sem opção.
Quando eu consigo ajudar alguém que tem fome e frio ,hoje, sabendo que não poderei erradicar esse imenso sofrimento existencial.

Quando eu tento abraçar o mundo e sou arremessada para longe.
Quando sou sugada e corrompida pela personificação contemporânea.
Quando os meus sonhos são interpretados como tolices.
Quando uma pessoa amada por mim não percebe que preciso de um abraço.
Quando o meu olhar lacrimejante é duramente ignorado.
Quando a desesperança desbota e rasga o meu coração.


Sem palavras rebuscadas,
Na simplicidade do meu ser,
Eu sinto você,
Eu sou você,
Eu compreendo você.


Bia Girotto - Março de 2015.